KLAUS KLEBER

Membro do Conselho Editorial e colunista, ex-editor-chefe do jornal GAZETA MERCANTIL.

SOBRE PIMENTA NEVES

“Não sei precisar desde quando conheço Antônio M. Pimenta Neves. Acredito que foi no final da década de 60. Recomendado pelo jornalista Edison Rodrigues-Chaves, fui falar com Pimenta sobre um “free-lance”. Ele me recebeu com cortesia e conversamos sobre o tema que ele queria focalizar na revista. Fui incumbido da reportagem e a entreguei no prazo combinado. Pouco mais de uma semana depois, ele me telefonou convidando-me para um almoço durante o qual me perguntou se eu aceitaria ser redator da Visão. Aceitei, claro. A oportunidade profissional veio na hora certa, pois estava desempregado. A convivência desde então, no trabalho e fora dele, nos tornou amigos. Além de três anos naquela revista, voltei a trabalhar com Pimenta na Gazeta Mercantil, durante a fase em que ele foi correspondente em Washington e, mais recentemente, como diretor de redação do jornal, no final do fim de 1995 até 1997.

“Durante todos estes anos, Pimenta sempre me impressionou pela sua cultura e capacidade profissional, bem como seu elevado padrão de comportamento ético, o que lhe causou problemas nas redações em que trabalhou. A sua vida profissional mostra que, quando considerava que seus princípios tinham sido desrespeitados, não hesitava em desligar-se de jornais ou revistas, por mais bem remunerado que fosse. Como chefe, foi sempre rigoroso no trabalho, mas sem nunca estabelecer uma distância entre si e seus subordinados. Fazia questão de conversar com todos, não só sobre questões ligadas diretamente ao trabalho, mas sobre qualquer assunto, de futebol e cinema até controvérsias políticas ou literárias. Pimenta sempre me pareceu um liberal tanto em política como em economia, mas sem dogmatismo. O que não gostava mesmo era de generalizações grosseiras. Embora não concordasse com certos pontos de vista, inclusive meus, não tinha preconceito contra partidos ou ideologias, o que também sua vida profissional comprova.

“Pimenta também não se negava a discutir problemas pessoais dos seus subordinados e ajudou muita gente. Tinha uma nítida preocupação em não tratar mal ou desconcertar ninguém, especialmente aqueles mais humildes. Nas redações, nos horários de fechamento de jornais ou revistas, é comum o uso de uma linguagem desabrida, de expressões cruas. Isso não o incomodava, mas nunca permitiu que um chefe gritasse ou com um subordinado (ou vice-versa, como às vezes acontece) ou que um colega tratasse outro de forma vexatória.

“Como qualquer pessoa, Pimenta tem suas idiossincrasias e, cioso como sempre foi dos princípios éticos, pode ter sido muito exigente em alguns casos. Quando na chefia, ele sempre fez questão que sua orientação fosse observada e, como todo ser humano, pode ter cometido erros de julgamento. Pessoalmente, devo dizer que discordei de algumas de suas decisões e, quando isso ocorreu, lhe disse com franqueza. Isso, porém, jamais afetou as nossas relações pessoais.

“A meu ver, Antonio Pimenta não é apenas o melhor editor de jornal com quem convivi. O seu padrão está muito acima da média. Ele tem sido também um amigo como poucos. Quando residia nos Estados Unidos, era comum, em suas visitas ao Brasil, trazer livros ou “gadgets” para ofertar aos amigos daqui, a quem fazia questão de visitar, sempre que podia. E, em Washington, como pude constatar mais de uma vez, servia de companheiro, anfitrião, guia e até motorista para os amigos brasileiros.”


Assinado (sem data, 2002):
Klaus Kleber de Souza e Silva
Gazeta Mercantil